Artigo: A Muçulmana Que Fundou Uma Universidade na Idade Média

Fátima Alfihri (em árabe transliterado: Fāṭima Alfihrī) foi uma muçulmana norte-africana nascida por volta de 800 na cidade de Alqayrawān (ou Cairuão em português, atualmente na Tunísia). Na época, a cidade pertencia ao Império ou Califado Idríssida (789-985 d.C. ou 172-375 da Hégira), que abarcava um território que corresponde hoje a partes da Tunísia, Argélia e Marrocos.

Desenho artístico de Fátima Alfihri.
Fonte: Sónia Frias (2014).

Fátima Alfihri é considerada – inclusive pelo Guiness Book – a fundadora de uma das primeiras universidades do mundo ou da primeira universidade do mundo medieval, em 859. Essa madrassa se chamava Alqarawyī (ou Al-Quaraouiyine ou Qarawiyyin) e foi criada na cidade de Fez (hoje no Marrocos), ainda existente. O nome da madrassa deriva do nome da cidade natal de sua fundadora.

Universidade Alqarawyī. Fonte: Morocco Jewish Time.

A Primeira Universidade?

Se levarmos em conta um mundo medieval que englobe Europa, África e Ásia fica difícil precisar qual foi a primeira instituição de ensino superior em todas essas regiões, então pode ser mais seguro afirmar que Fátima Alfihri foi a fundadora da primeira universidade do mundo islâmico e do mundo norte-africano e mediterrâneo. Um feito por si só notável para a época.

Quando menciono “mundo mediterrâneo” me refiro aos litorais banhados pelo mar Mediterrâneo, indicando assim territórios no norte da África, no sul de várias regiões europeias e na costa do Oriente Médio. Todos esses locais se conectavam desde a Antiguidade por meio de rotas comerciais por onde pessoas de diferentes culturas, etnias e religiões trocavam saberes e produtos.

A seguir, um mapa da bacia do Mediterrâneo com os atuais países banhados por esse mar.

Mapa da Bacia do Mediterrâneo. Fonte: AIO.

O Califado Idríssida e a Fundação da Universidade

Durante os governos de Idrīs I e Idrīs II (de 789 a 828) o Califado Idríssida viveu um período de prosperidade econômica e cultural, atraindo muitos comerciantes para a capital do califado, Fez, incluindo a família de Fátima, cujo pai era um mercador abastado. A condição econômica da família possibilitou à Fátima uma educação privilegiada, de modo que ela era versada em religião, artes e ciências no geral.

Com o falecimento do pai, Fátima herdou uma grande fortuna. Logo após a morte do seu progenitor, seu marido também faleceu. Segundo Sónia Frias (2014), Doutora em Ciências Sociais pela Universidade de Lisboa, a herança considerável e a viuvez de Fátima lhe permitiram uma autonomia pouco comum às mulheres da época, influenciando assim na fundação da Madrassa Alqarawyī.

Alguns produtores de conteúdo desmerecem o feito de Fátima afirmando que ela fundou uma mesquita, e não uma madrassa (escola islâmica). Isso é uma visão machista da história que não considera o protagonismo feminismo e tampouco a natureza das instituições islâmicas.

Para combater essa visão é preciso explicar que no mundo islâmico medieval os saberes estavam vinculados à religião. Assim, o que chamamos de mesquitas (templos) eram na verdade complexos com várias repartições, incluindo as salas de oração (mussalas) e as madrassas, as escolas de ensino superior da época, que ensinavam disciplinas como Teologia, Jurisprudência, Poesia, Matemática, dentre outras. Assim, Fátima Alfihri fundou a Mesquita/Madrassa Alqarawyī.

Referências

COLLEGE STATS. Top 10 oldest universities in the world ancient colleges, 2021.

Disponível em: https://tinyurl.com/3ke67xnb

FRIAS, Sónia. Fatima al-Fihri – um retrato possível da fundadora da Universidade Qarawiyyin em Fez. Revista Faces de Eva, Lisboa, n. 32, 2014. Disponível em: https://tinyurl.com/y8ah7l9l

Como referenciar este artigo?

DAMASCENO, Thiago P. M. A Muçulmana Que Fundou Uma Universidade na Idade Média. História na Medina (Artigos), 12 jul. 2021. Disponível em: https://historianamedina.com/artigo-a-muculmana-que-fundou-uma-universidade

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